Michael Myers foi introduzido às telas de cinema em 1978, quando John Carpenter dirigiu o seminal Halloween: A Noite do Terror. Não foi apenas um grande filme independente, mas também um dos principais precursores do cinema de slasher, uma das mais populares variantes do gênero do terror. Mesmo 44 anos depois, o impacto da criação de Carpenter segue fortíssimo, e é praticamente impossível não mencionar Halloween quando o assunto é slasher.
Com muitas idas e vindas nessas quatro décadas, Michael Myers foi vítima de remakes, reboots e linhas do tempo alternativas, garantindo a cronologia mais confusa que Hollywood já viu em sua História. A mais recente encarnação da história teve grande sucesso com a visão de David Gordon Green, que aliado à badalada produtora Blumhouse, ajudou a devolver respeito à mitologia de Michael Myers e a formidável Laurie Strode de Jamie Lee Curtis com um reboot muito decente e bem sucedido lançado em 2018.
O longa deu tanto certo que duas sequências absolutamente não planejadas foram lançadas em sequência. Halloween Kills: O Terror Continua serve mais como uma extensão do filme de 2018, e o recente Halloween Ends comprova que David Gordon Green e Danny McBride definitivamente não sabiam para onde levar essa nova fase da franquia.
Isso porque a trama de Halloween Ends toma uma decisão ousada ao não explorar o cliffhanger gigantesco deixado por Kills, onde Michael Myers assassinava a filha de Laurie Strode. Ao invés disso, o novo filme se passa 4 anos depois desse sangrento clímax, com uma Haddonfield pacífica e sem aparições de Myers há anos; o que enfim garante um período de paz para Laurie e sua neta Allyson (novamente vivida por Andi Matichak).
É aí onde Halloween Ends toma seus rumos mais inesperados, e que não foram sugeridos em nenhum dos trailers ou materiais promocionais da Universal Pictures. O longa desvia o foco totalmente para um novo personagem: Corey Cunningham, vivido por Rohan Campbell que protagoniza uma bizarra trama de coming of age. Além de ser um interesse amoroso forçado de Allyson, o jovem passa a ter uma conexão muito mal explicada com o assassino Michael Myers; não chega a ser sobrenatural, mas posiciona o jovem Corey para se tornar um novo tipo de ameaça para o povo de Haddonfield.
Não deixa de ser uma ideia curiosa, e que definitivamente ajuda Halloween Ends a se tornar muito mais de uma mera conclusão de ato: é um filme completo, mas talvez não aquele que os fãs estejam esperando. É uma experiência apressada e que toma decisões que não fazem muito sentido, e que mostram-se especialmente frustrantes quando Halloween Ends toma outro rumo para, enfim, voltar o foco para Myers e Laurie Strode – enfim acordando para as pontas soltas deixadas pelo final de Halloween Kills. É um desfecho apropriado, ainda que não muito surpreendente, mas que realmente passa a impressão de uma experiência mal costurada e que mistura dois filmes completamente diferentes.
Certamente não será a última vez que veremos Michael Myers nos cinemas. Halloween Ends encerrou a interpretação de David Gordon Green e o resgate de Jamie Lee Curtis, mas a noite de Halloween ainda deve brilhar novamente no futuro. Com sorte, talvez com resultados mais dignos.