Will Smith teve o pior momento de toda a sua carreira neste ano, ironicamente quando receberia a maior honra por seu trabalho no cinema: o Oscar. Após dar um tapa no comediante Chris Rock, o astro entrou em período de isolamento em Hollywood, o que colocaria em jogo a estreia de um de seus principais projetos em desenvolvimento: o drama Emancipation: Uma História de Liberdade, que já estava em processo de pós-produção muito antes de Smith perder a paciência no palco em março deste ano.
Baseado em uma história real, Emancipation narra a história de Peter, um homem escravizado (Smith) que anseia em se reencontrar com sua família. Enquanto é forçado a trabalhar na construção de uma ferrovia, ouve rumores de que Abraham Lincoln aboliu a escravidão nos Estados Unidos, e planeja uma fuga para se juntar à seu exército em Baton Rouge, enquanto é perseguido pelos pântanos da Louisiana.
Obtido por um alto valor pela Apple TV+, Emancipation é a chance de Will Smith redimir sua imagem em Hollywood, e até mesmo tentar lutar por mais um Oscar. A história é poderosa e parte de um princípio simples, com a fuga de Peter comportando boa parte da narrativa de mais de 2 horas, e esse elemento certamente garante a porção mais eficiente do filme. Porém, o roteiro de Bill Collage acaba se estendendo demais ao tentar atenção para outros núcleos (como a esposa de Peter) e também pela desnecessária alongada no momento em que Peter enfim encontra o exército de Lincoln, criando um quarto ato radicalmente diferente de tudo o que havia vindo até então.
Talvez o maior problema de Emancipation seja sua pretensão. O cineasta Antoine Fuqua é famoso por sua versatilidade em abordar gêneros de drama intimistas e grandes pipocas de ação estilizada, e parece tentar juntar os dois elementos em uma trama que definitivamente merecia mais intimismo. Fuqua está bem mais maduro em suas composições, mas pesa a mão no uso excessivo de slow motion, o uso forte de melodrama e trilha sonora evocativa, e também uma direção de atores que parece forçar seus intérpretes a almejar pelo Oscar – e não necessariamente se entregar à história.
É o caso do próprio Will Smith, que surge carismático e intenso como sempre – em um modo parecido com os diversos dramas Oscar bait dos quais participou nos anos 2000. Porém, a impressão que fica em Emancipation é a de que Will Smith está se esforçando para entregar uma performance digna de Oscar, repleta de momentos de longos monólogos, um sotaque carregado e algumas decisões de movimentos e nuances que soam um tanto artificial.
Mas se há um elogio supremo sobre Emancipation, definitivamente é seu trabalho de direção de fotografia. Sob encargo do premiado Robert Richardson, um dos grandes colaboradores de Quentin Tarantino e Martin Scorsese, o visual do filme é marcado por uma paleta desaturada que aproxima o longa de um preto e branco, perfeitamente representando a América “cinzenta” que parece em contradição consigo mesma em seu tratamento da escravidão. Um trabalho plasticamente perfeito.
Por mais que seja cheio de boas intenções e uma história marcante, Emancipation: Uma História de Liberdade é prejudicado pela alta pretensão de seu diretor e ator protagonista. Mesmo que seja excepcionalmente bem fotografado, o filme de Antoine Fuqua merecia um toque mais intimista e menos apelativo.