A mais nova cinebiografia da Warner estrelada por Austin Butler tem tudo para dar certo, um ícone musical de sucesso, uma história repleta de camadas e atores protagonistas brilhantes, mas infelizmente, sua execução é falha, apesar da carreira icônica de Elvis. A trama do filme se afunda em uma homenagem sem coração.
Lembrado até os dias de hoje por inúmeras gerações, está certo que muito além de seu sucesso, Elvis Presley nunca teve uma vida pessoal fácil. Cercado pela mídia, o astro foi alvo de muitas críticas por seu estilo diferente e mal interpretado na época, além de lidar com as diferenças com seu tão complexo empresário, Tom Parker – interpretado aqui por Tom Hanks -, perdas ao longo do caminho, problemas no casamento, drogas e muito mais ao decorrer de sua jornada.
Embora prometa uma homenagem ao tão atemporal artista do século XX, a produção busca fazer jus ao quão poderoso Presley foi para a indústria musical. No entanto, não passa disso. O filme tenta unicamente provar a todo custo que o cantor e ator foi influente e percursor de um estilo único em seu ramo, mas infelizmente se esquece de adicionar a alma por trás de sua história.
Abordar a vida e carreira de um artista em um projeto com menos de três horas não é um trabalho fácil, porém, produções como Rocketman e em partes, Bohemian Rhapsody, provam que é possível contornar histórias de grandes lendas. O problema desta nova cinebiografia, é que o diretor Baz Luhrmann, estava muito mais interessado em levar as telas um filme que serve muito mais como uma denúncia dos abusos de Tom Parker, do que de fato, explorar as diversas facetas de sua estrela título.
O fato do longa ser narrado pelo próprio Parker de Hanks, torna o trabalho ainda mais impessoal, já que a figura só enxergava Elvis como um fantoche de seu show para a indústria. O filme tem um ritmo altamente acelerado, e acaba pecando em passar por grandes acontecimentos muitas vezes dignos de serem explorados, de forma rápida, tornando até mesmo difícil acompanhar a linha temporal do cantor na trama adiante. Pode funcionar em partes para uma pessoa que pretende conhecer bem vagamente sobre a carreira do cantor, mas sem adicionar muito do ser humano por trás do rei do rock n’ roll e as camadas de sua história pessoal.
Tom Parker foi um grande capítulo por trás da carreira do artista vivido por Austin Butler, mas dividir a trama por inteiro com as complexidades do empresário e deixar em escanteio grande parte da vida de Elvis, foi certamente um erro. Nem a performance brilhante de Tom Hanks seria capaz de salvar o quão erroneamente protagonista foi sua interpretação na cinebiografia.
Austin Butler não poderia ser definido como nada menos que perfeito, e é impossível tirar os olhos do astro enquanto está encarnando Presley nas telas, especialmente os momentos em que subia aos palcos, que infelizmente, esteve tão ausente em grande parte da trama, excluindo diversas oportunidades de apresentar os inúmeros hits do cantor, como Rocketman faz com tanta graça e perfeição ao decorrer de sua história.
A fotografia do longa-metragem é certamente um ponto a ser enaltecido, além de suas transições criativas, embora seja tudo tão rápido, com o aparente e único objetivo de acabar essa narrativa e chegar a apenas ao triste e infame momento da morte do cantor em 1977, ou mesmo unicamente apresentar o desgaste que a fama trouxe a Elvis Presley com o decorrer dos anos no showbusiness.
É triste pensar que um artista com tantas facetas foi levado aos cinemas com o único objetivo de relembrarem a ascensão já conhecida, seguida de sua queda e as algumas polêmicas que os cercaram, ganhando um momento profundo e sentimental apenas nos últimos 30 minutos de filme, quando tudo já estava encaminhado para seu fim. É impossível fugir desse capítulo na vida do cantor, mas tratar isso sem as razões do astro, sem alma e de forma tão rasa, é imperdoável. Parece apenas um complemento dramático para encerrar o capítulo, assim como as lacunas performáticas de Butler nos palcos, que se destacaram e foram drasticamente mal aproveitas.
O filme é de primeira vista empolgante, divertido, muito bonito visualmente, com atuações dignas de serem reconhecidas e desperta curiosidade, mas o decorrer da cinebiografia tenta abraçar a história do rei do rock and roll em um visão desenfreada e apática que acaba transformando a experiência em nada além que mediano. Austin Butler e sua performance encantadora estão apenas na adaptação errada do cantor.
Elvis chegará aos cinemas na próxima quinta-feira, no dia 14 de julho.
NOTA GERAL DO AUTOR: (2,5/5)