Review | Returnal traz experiência ainda melhor no PC

A versão definitiva de Returnal certamente está no PC trazendo a melhor experiência possível ao jogador.

Review | Returnal traz experiência ainda melhor no PC
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Apesar de não ter sido um jogo de lançamento conjunto ao Playstation 5, Returnal foi um dos primeiros grandes títulos verdadeiramente exclusivos da nova geração. 

O jogo foi uma das primeiras empreitadas da Housemarque que, de lá pra cá, se tornou um estúdio exclusivo da Playstation, muito por conta do módico sucesso que conseguiu com o game. 

Agora, pouco mais de um ano depois do lançamento do título, a Sony traz o ex exclusivo para o PC sem muito alarde, mantendo o status cult e nichado de um game que se distingue radicalmente da fórmula de jogos cinematográficos que a companhia investe em peso com sucessos como The Last of Us e Ghost of Tsushima. 

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Feitiço do Tempo

Returnal traz a história de Selene, uma astronauta solitária que atende um chamado misterioso de socorro vindo do sombrio planeta Atropos: o sinal da Sombra Branca. Adentrando a atmosfera densa do lugar, um raio atinge a sua nave, Helios, que cai e quebra sem qualquer chance de reparo. 

Ao explorar os arredores para descobrir a origem do sinal, Selene encontra vestígios de uma civilização alienígena senciente que parece ter sido extinta há milênios. Entretanto, enquanto a civilização ruiu, a fauna extremamente agressiva do lugar prosperou. 

No inevitável confronto contra as criaturas bizarras, ela descobre a morte. Mas o pior não é somente o fato de morrer, mas de retornar dentro da Helios destruída toda vez que acaba perecendo. Mantendo a consciência da experiência das vidas passadas e encontrando registros de áudio de outras Selenes que já morreram, ela se dá conta que está presa em Atropos e nem mesmo a morte lhe dará uma alternativa para fugir dali. 

Com isso, Selene decide que a única alternativa é mesmo encontrar a origem do misterioso sinal e emitir um SOS para conseguir escapar do inferno de Atropos. 

Rumando totalmente contra as tendências de narrativa de jogos da atualidade, a Housemarque traz um jeito único de contar a intrigante narrativa de Returnal que, me arrisco a dizer, ser uma das mais interessantes da última década – a par com Bioshock Infinite. 

Bebendo da fonte de narrativa vestigial aos moldes de Limbo e Dark Souls, Returnal reúne o melhor de diversas abordagens para trazer uma experiência muito memorável ao jogador. Temos a interação com itens que trazem consigo detalhes importantes, os áudios fascinantes das outras Selenes, hieróglifos da antiga civilização condenada e também o uso tradicional de intensas cutscenes. 

Fora isso, vai além ao usar a fórmula das diferentes experiências que proporciona para o jogador a cada fracasso ao enfrentar os perigos de Atropos, que nos leva ao outro tópico da análise. 

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O sucesso do fracasso

Absolutamente ninguém gosta de fracassar diversas vezes na mesma fase de um jogo. Entretanto, a Housemarque decide ir na contramão do consenso geral da comunidade. 

Mesmo que muitos games difíceis tenham se tornado uma espécie de subgênero com os soulslike, a proposta de Returnal é um tanto diferente. Tantos anos depois de seu lançamento, não é novidade pra ninguém a fama que o jogo adquiriu de ser “imperdoável” e “extremamente difícil”. 

A fama é justa, pois o jogo é mesmo muito desafiador, mas ele também sabe recompensar o jogador com suas próprias falhas. Por mais contraditório que isso soe, o jogador que conseguir triunfar o ciclo e superar os seis biomas em poucas rodadas, terá a menor das experiências que o jogo quer proporcionar. 

Returnal incentiva o fracasso e ele te recompensa com isso. Toda vez que Selene morre e retorna para um novo ciclo, não só as câmaras que dispõem o mapa mudam completamente, mas novos detalhes surgem com áudios inéditos, interações diferentes a locais importantes, novos inimigos e até mesmo cinemáticas inteiras que oferecem contextos de suma importância para compreender a história da vida de Selene e seus medos mais profundos. 

Em si, Returnal é um conto fascinante sobre fracasso, luto e trauma. Obviamente que os desenvolvedores calculam uma média de fracassos para levar o jogador a uma experiência mais completa e eu imagino que morrer em um bioma muito avançado para ver todo o seu progresso ir para o vinagre seja muito frustrante. 

Logo, pelo fato do primeiro bioma ser um dos mais difíceis para o jogador encarar, é preciso ter paciência. Como disse, o game é mesmo difícil. Ser um roguelike significa que a cada fracasso, boa parte dos itens que adquiriu serão perdidos (só alguns importantes incrimentos que são encontrados após intensas batalhas contra chefes memoraveis que serão mantidos).

Então é fácil se render à frustração e abandonar o jogo. Mas lhes garanto que se eu, sendo péssimo em geral com jogos difíceis, consegui terminar o jogo, qualquer um consegue. Isso se dá por conta do jogo não ser injusto. Todas as mortes que experimentei foi por conta de azar ou desatenção. 

Muitos itens para aprimorar a saúde de Selene ficam disponíveis nas câmaras, além do loot com novas armas e artefatos ajudarem bastante a tornar o game mais funcional e aprazível. Novamente, por conta da aleatoriedade de sua mecânica, o fator sorte está presente. Alguns ciclos serão mais difíceis que os outros, com toda a certeza. 

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Golpe de sorte

Com esses elementos, em uma tempestade perfeita, o jogador pode ter a chance de ter um ciclo de dificuldade moderada. Felizmente, após o terceiro bioma, o game fica um pouco mais fácil, principalmente por conta do acúmulo de aprimoramentos que o jogador encontrará ao explorar os mapas fascinantes. 

São diversos artefatos, parasitas, totens e armas que o jogador terá à disposição para dar o troco nas criaturas infernais que perseguem Selene disparando diversos projéteis com ataques físicos. 

O jogo, na verdade, também mostra através de destaques de cor, onde são os pontos fracos de cada inimigo. Atingir a área certa também facilita muito a experiência, além de aprender como fazer as criaturas atingirem uma fadiga e interromperem os ataques por algum tempo (a épica espada que Selene encontra é vital para conseguir emplacar esse efeito).

A exploração é encorajada também através não só da direção de arte espetacular inspirada na arte de H. R. Giger e seus designs biomecânicos e pelas criaturas tiradas dos pesadelos de H. P. Lovecraft, mas pela distribuição muito acertada de baús de recompensa. 

Alguns deles estão corrompidos com a bizarra energia maléfica que contamina o bioma de Atropos, o que força o jogador a sempre calcular friamente o risco ao adquirir um artefato contaminado, um parasita ou abrir um baú sem purifica-lo antes. 

É um bom sistema de vantagens e desvantagens que ajudam a tornar toda a experiência ainda mais tensa e emocionante. A versão de PC também conta com o modo co-op multiplayer que certamente vai ajudar muita gente a superar os desafios do game em dupla. A fórmula do roguelike casa perfeitamente à proposta narrativa do jogo ao tornar o jogador a representação material de Selene. 

Assim como ela, não conseguir triunfar sobre Atropos e desvendar um mistério amargo, o jogador é levado a repetir toda a experiência que pode se tornar sim exaustiva após algumas dezenas de mortes. Ao mesmo tempo que o sistema pode frustrar, ele também ajuda a injetar uma adrenalina rara que poucos jogos conseguem – não à toa que uma das mecânicas de multiplicação de dano se chama justamente Adrenalina. 

Returnal é mesmo uma experiência única que sabe elevar a emoção do jogador a patamares raros que não posso deixar de recomendar. 

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Uma experiência melhor 

Sem sombra de dúvidas, Returnal é o jogo da Sony que melhor se beneficiou de ser portado para o PC até agora. Além das melhorias gráficas notáveis graças ao melhor uso do Ray Tracing, o jogo tem suporte à altas taxas de frame rate. 

Como o ritmo do jogo é muito frenético, ter a vantagem de maior resposta de tempo de comando na tela é algo que faz muito diferença. Jogar Returnal a 60 FPS no PS5 é uma boa experiência sim, mas não há comparação com o dobro de frames no PC. 

Com suporte nativo ao DLSS 2 e ao FSR, muitas máquinas com hardware modesto podem conseguir entregar um desempenho bastante alto e, com isso, ter uma jogabilidade ainda mais fluida. 

Enquanto muitas coisas do port foram realizadas com mestria pela Housemarque e o Clímax Studio, há sim alguns problemas que serão corrigidos em patches futuros. 

Conseguindo driblar uma das maiores chatices da Unreal Engine 4, os terríveis engasgos, o game traz uma ótima e necessária compilação de shaders ao iniciar o programa. O problema é que mesmo assim, os engasgos estão presentes. 

Eles acontecem com frequência logo antes do jogador adentrar uma nova câmara no mapa. Porém, caso opte por jogar com os efeitos em Ray tracing ligados, os engasgos ficam ainda mais frequentes prejudicando e muito a experiência. 

Nos últimos meses o PC parece amaldiçoado com lançamento que tem problemas sérios de stuttering com The Callisto Protocol, Forspoken, Gotham Knights, Hogwarts Legacy e agora também com Returnal. É um caso menos grave comparado à concorrência, claro, mas que não era esperado nesse port que ficou em produção por tanto tempo – ainda mais do problema não existir em outros games da Sony no PC. 

É claro que isso será corrigido em breve, mas foi frustrante notar a presença do problema. Fora isso, o port é excelente e bastante estável. Na build de lançamento não tive um crash sequer e a performance em geral estava excelente, fora os engasgos. 

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Uma aventura no nicho

Com pouco marketing, não é esperado que Returnal seja um sucesso absoluto de vendas no PC – ainda mais levando em conta que fevereiro está abarrotado de grandes títulos, principalmente Hogwarts Legacy. 

O boca a boca também pode assustar, já que a maioria dos jogadores temem pela dificuldade e a natureza de seu design roguelike. Entretanto, não recomendar Returnal é uma insanidade. 

O game traz uma história muito boa que clama pela participação ativa do jogador a pensar e juntar as peças do quebra cabeça que envolve o mistério envolvendo tanto o passado de Selene como o que os ciclos representam, além de todas as características de Atropos e sua civilização extinta. 

Não dá pra entrar em detalhes na história porque as surpresas são muito gratificantes. O gameplay é sólido e divertido, além dos gráficos serem memoráveis com a diversidade dos cenários dos biomas, cada um muito único por si só, trazendo experiências suficientemente diferentes para engajar o jogador. 

Returnal consegue superar o feito de ser apenas um ótimo game. Ele já é um clássico cult moderno que merece receber uma chance de qualquer um que esteja minimamente curioso. 

É um daqueles poucos e seletos jogos que marcam a nossa vida pela experiência tão distinta, criativa e original que ele não cansa de entregar. 

Agradecemos à PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.