“Um Lugar Bem Longe Daqui” é um filme que adapta a obra literária homônima de Delia Owens. A história entrega uma narrativa repleta de emoções, que aborda solidão e exclusão. De forma inédita, o longa conecta importantes assuntos em uma história sobre natureza, simplicidade e principalmente: um verdadeiro olhar de cuidado com o próximo.
Estrelado por Daisy Edgar-Jones, a trama mostra a história de Kya, uma menina que cresceu em um brejo e teve que se despedir de cada membro da sua família, por conta da violência de seu pai. No final das contas, a criança se vê sozinha após o pai também deixar a casa. Ela aprende a sobreviver com uma alta conexão com a natureza e os recursos que o brejo oferece.
A melancolia e solidão não são vistas nos primeiros minutos de tela. Isso porque, apesar de uma narrativa delicada e calma, o filme inicia conquistando o telespectador que se sente curioso para saber quais histórias tal paisagem tão impactante tem a entregar. Durante toda a narrativa, o personagem principal da história toma o lugar de Kya e se consagra com o próprio brejo.
E de fato, o ambiente estrela a obra, uma vez que cada detalhe e suas características integram a vida da garota, sendo que o brejo se torna os verdadeiros pais, a escola e a vida de Kya. A fotografia do filme se expressa de forma simples, mas detalhista, natural e impactante, esse sentimento leva uma melancolia que se estende até na figuração dos personagens, em suas roupas e maquiagens suaves. No entanto, há uma cena muito específica em que o CGI do ambiente ampliado, revela uma falsa impressão ao público.
O filme encontra o desafio de lidar com idades diferentes de uma mesma personagem. De início, o conflito principal é apresentado através de uma morte em que Kya é dada como culpada. Para explicar o processo, a infância e juventude da personagem é apresentada de forma minuciosa e consegue se conectar naturalmente com dinâmica da linha do tempo.
O drama vivido pela personagem principal se dá de forma muito forte nos primeiros anos de sua infância e situações de violência e injustiças, que marcam a sua trajetória de tal forma que o telespectador fica constrangido com sua leveza ao lidar com tanto sofrimento. Em destaque, Jojo Regina chama muita atenção por uma atuação dramática e completamente entregue ao personagem. Ela dá vida a versão criança de Kya Clark.
O roteiro de Lucy Alibar se caracteriza pelo suspense gerado, de forma fluída e sem momentos maçantes. Nos primeiros atos, é possível se conectar com o drama e sentir com intensidade cada acontecimento na vida da protagonista. A história narra com profundidade os conflitos, mas ao chegar no final, é possível ver que alguns furos são levantados.
Na tentativa de dar conta dos principais momentos do livro, o roteiro se perde nas últimas cenas com a ideia de explicar o mistério e introduzir mais emoções, por exemplo, a morte de um importante personagem, que é concluída em menos de três minutos. Além disso, o mistério do filme é resolvido de forma vazia e pouco explicada, poderia ser uma ideia de suspense, mas transpassa uma forma desesperada de integrar um desfecho.
Taylor Swift em “Um Lugar Bem Longe Daqui”?
A história do longa se passa na Carolina do Norte, a paisagem do local e a conexão de Kya com o ambiente dão voz ao principal arco do filme. Partindo dessa ideia, a cantora Taylor Swift compõe uma música especial que faz parte da trilha sonora e pode ser considerada como a música tema da produção.
“Carolina” é uma canção que expressa essa relação, falando sobre os sussurros, árvores e pássaros do ambiente e ao mesmo tempo expressa que o eu lírico faz parte disso e também se sente sozinho. Tal ideia se dá pelo principal fator de Kya, também chamada de Mulher do Brejo, ser uma menina excluída da sociedade. A garota é considerada sem civilização, é descartada e tratada com descaso, mesmo com um histórico de abandono.
“Um Lugar Bem Longe Daqui” é um suspense que prende atenção do telespectador e consegue abordar temas fortes de forma natural e comovente. A história desperta muita emoção no telespectador que compra a causa da personagem principal, dessa forma ele atende bem a proposta sugerida, apenas com algumas ressalvas. Dentre essas ressalvas, se encontram a correria do desfecho e alguns momentos extensos que tomam o lugar de um final melhor explorado.
O filme é de longe um dos dramas mais intensos, principalmente por se tratar de traumas de infância, críticas sociais e uma problemática envolvendo a violência contra a mulher, que não escolhe a vítima. Com uma paisagem encaixando perfeitamente com a estética proposta, o longa se torna uma experiência imersiva e envolvente.
Nota da autora: