Trazer as consequências mentais de uma tragédia para um filme é uma aposta delicada. Essa foi a missão de Megan Park em “A Vida Depois”, o novo drama da HBO Max. Enquanto o famoso filme “Uma Vida com Propósito” (2017) mostra os antecedentes de um tiroteio na escola, esse novo longa é palco para os acontecimentos após um aluno de 16 anos atirar em vítimas aleatórias na escola.
A história é focada na vida de Vada (Jenna Ortega), uma aluna feliz, dedicada que se vê diante de um grande desafio quando se esconde junto de Mia (Maddie Ziegler) no banheiro da escola durante um tiroteio. A partir disso, a vida das duas jovens, até então desconhecidas, muda completamente.
Com o nome original “The Fallout”, o filme é um intenso drama que procura ao máximo dar conta de deixar explícito a vida dessas adolescentes, com foco em Vada, após passar por essa tragédia. Nenhuma das duas foi ferida fisicamente, mas as marcas que o ocorrido deixou em suas vidas é algo profundamente abordado. O longa conquista excelência em trazer o tema nos pequenos detalhes, como em algumas cenas que focam em simples expressões das personagens, por exemplo a tensão ao sutilmente roer as unhas.
O roteiro apresenta uma síntese das etapas que Vada viveu, a princípio as cenas estáticas mostram o estado da jovem: anestesiada, assustada e sem um rumo definido. O longa consegue mostrar um panorama profundo, interessante e dramático de cada atitude tomada. Como a dificuldade de expor seus sentimentos, causando um conflito familiar entre Veda e seus pais e amigos. Também há uma troca pela fuga da realidade, se aproximando de novas experiências e tentando esconder a grande dor causada pela morte de tantos colegas de escola.
Para isso, a atuação de Jenna Ortega entrega um dos pontos mais altos do filme. Como a personagem principal, a atriz exprime de maneira branda cada sentimento vivido ou não por Vada. É nítido a maneira que o filme explora através da personagem, a visão de uma adolescente espontânea e engraçada que nesse momento vive uma grande confusão, tristeza e se encontra perdida diante dos próprios sentimentos.
No entanto, o foco nas performances da personagem deixam de lado um possível bom desenvolvimento de Mia, vivida por Maddie Ziegler. A atriz já fez uma pequena participação em Pretty Little Liars e seria capaz de apresentar mais do que a sua personagem demonstra. Apesar da personalidade mais fechada, Mia tem uma história interessante, uma jovem conhecida, cheia de amigos e seguidores, e ao mesmo tempo sozinha, sem a atenção da família e com grandes conflitos internos. Por viver a mesma circunstância que Vada, a garota poderia ter tido mais tempo em cena com uma profundidade melhor em sua narrativa.
É possível perceber que o filme caminha junto com as descobertas de Vada, quando ela não compreende os seus sentimentos, não há falta de recursos para representar tal acontecimento. Dentre eles, é possível ver o quanto sua relação com a irmã mais nova é enfraquecida, tanto quanto a briga com Nick, seu melhor amigo. Além disso, algo que também revela essa circunstância é o seu envolvimento amoroso com Mia e com Quinton, irmão de uma das vítimas do tiroteio.
Pela duração de apenas 1h36 minutos, o filme se apressa em desenvolver alguns tópicos do enredo, como a abertura da ferida emocional de Vada, a exposição de suas verdadeiras expressões com a família e a evolução com a terapeuta. Talvez se o longa tivesse mais cenas, seria possível explorar melhor esses detalhes e a história de Mia, o tornando mais completo no geral.
Contudo, há uma cena notória que Vada junto de seu pai gritam seus sentimentos em um local reservado e a libertação da personagem é comovente e emocionante aos telespectadores. Tal como as outras cenas de “A Vida Depois”, que aborda um intenso drama de maneira fluída, tocante e leva o público a refletir sobre as consequências mentais que uma tragédia dessa pode interferir na vida de um jovem e daquelas que o circundam.
Nota: