O filme foi lançado 53 anos atrás, em 1968Recentemente a HBO lançou seu novo serviço de streaming, o HBO Max, e me levou a finalmente assistir filmes que sempre estiveram na minha lista, mas que eu nunca tinha me encorajado a ver por pura preguiça de baixar no computador (ah, o motivo dos serviços de streaming fazerem tanto dinheiro). ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’ era um desses filmes e, então, como a boa nerd que sou, precisava finalmente assistir e parar de postergar.
A obra é, realmente, uma incrível produção visual e sonora, que tem seus defeitos e qualidades, mas definitivamente merece seu status na cultura pop atual. Claro que, ao passar pelas quase três horas de filmes, eu já estava formulando uma análise na minha cabeça para compartilhar com vocês. Mas, antes de prosseguir com esse artigo, eu queria te avisar que essa resenha contém ironia, porém, isso não significa que eu não gostei ou entendi o filme. Pelo contrário, eu quase não vi o tempo passar enquanto o assistia, contudo, sou capaz de fazer piada até mesmo com as minhas obras favoritas (embora eu realmente não tenha entendido, mas tudo bem, já que o próprio disse que se alguém entendeu, ele não fez o trabalho dele direito).
Você também está avisado que esse texto vai conter spoilers, o que eu acho importante mencionar, já que, alguns de nós conseguem se esquivar desses malditos, mesmo quando a obra em questão foi lançada mais de 50 anos antes. Eu mesma não fazia a menor ideia do que aconteceria no filme, a não ser pelo fato de haver um computador chamado HAL 9000, alguns humanos no espaço e uma extrema superestimação de onde a evolução tecnológica da humanidade estaria em 2001.
Entendendo o filme
Para entender o longa, primeiro precisamos saber o que é uma Odisseia. Quando o nome é mencionado, a primeira coisa que você deve lembrar é daquela realizada por Aquiles nos escritos de Homero, o que não deixa de ser um perfeito exemplo, tendo em vista que, segundo o dicionário de Oxford, uma Odisseia é o mesmo que uma longa perambulação ou viagem marcada por diversos imprevistos singulares.
A verdade é que, se não compreendermos o título, a qualidade do filme cai bastante, tendo em vista que, fazendo jus ao seu gênero, a produção realmente é recheada de eventos singulares que, certas vezes, não tem conexão com outras partes do enredo e podem acabar parecendo desconexos. O problema de HAL, que ocupa grande parte das 2 horas e 25 minutos do filme, não vai realmente se conectar ao começo ou ao final da trama, porém, o papel dele não é esse, é ser apenas uma das várias singularidades da Odisseia de Dave.
Os primeiros 20 minutos do filme vão mostrar apenas o período pré-histórico, onde acompanhamos a reação dos macacos ao ver um monólito preto misterioso. Eles não são capazes de entender aquela tecnologia e tentam destruí-la, no que parece ser o primeiro contato desses seres com uma arma. É possível ver o exato momento em que os primatas transformam um osso em um martelo e começam a tentar se matar. Depois, temos uma das transições mais bonitas do cinema, quando vamos da visão da mão do macaco estendendo sua arma até a nave tecnológica que está no espaço. (No começo eu não entendi nada, no final parecia que eu tava no começo.)
O que aprendemos, já em 2001, resumidamente, é que há um artefato misterioso na lua e o conselho lunar está mantendo isso em segredo, criando um boato de pandemia na estação espacial. Ao investigar, os três especialistas acabam encontrando um monólito igual ao visto no início do longa e captam uma transmissão para Júpiter, decidindo então partir em uma jornada para lá. Devido à natureza da missão, os astronautas são mandados em criogenia dentro da espaçonave, para que ninguém descubra o real motivo da ida ao planeta. O interessante dessa parte é perceber que, mesmo milhares de anos depois e com diversas tecnologias, a humanidade ainda se vê confusa diante do monólito. Não importa o quão avançados nós sejamos, sempre há alguém mais à frente.
É então que a jornada começa. O começo e o final parecem irrelevantes, mostrando apenas o motivo da viagem, já que a história é sobre a jornada, não sobre a missão. Estamos a bordo da nave, com os dois astronautas encarregados de cuidar de tudo durante o caminho, já que os três cientistas principais, que investigaram o artefato, estão em estado criogênico no momento. É bem aí que 2001 se torna revolucionário com relação à seu tema.
A estação é comandada pelo computador HAL 9000, que deveria ser, supostamente, perfeito e sem erros. Claro que, durante a narrativa, ele acaba tendo uma falha e, ao perceber que corria o risco de ser desligado, mata toda a tripulação a bordo, exceto pelo astronauta Dave, que consegue se safar e desligar a Inteligência Artificial.
No atual momento, é bem comum vermos computadores dando a louca, especialmente no espaço. Temos até mesmo um gênero inteiro de jogos de videogame dedicados a isso: Tacoma, Turing Test e Observation são exemplos de jogos onde a protagonista é lançada em uma espaçonave para descobrir o que aconteceu com a tripulação desaparecida e acaba desconfiando do computador maldito.
Por mais que, talvez, o HAL pareça não contribuir muito para o enredo da missão, ele deu origem a uma ideia completamente nova, a Inteligência Artificial se rebelando. Adicione isso ao fato de que o filme se esforça para te transportar para dentro dos locais filmados e o resultado é uma grande experiência visual.
Um final confuso
O final do filme é polêmico, chegando a ser confuso, e eu precisei dar uma pesquisada para entender o que se passava na cena. O Dave, após desligar o computador assassino, chega em Júpiter, onde ele encontra uma civilização extremamente avançada e é capturado. Ele vê sua vida passar diante de seus olhos e é transportado para seus últimos momentos de velhice, em um quarto que parece ser um zoológico para humanos. Em suas respirações finais, ele vê outro monólito e acaba renascendo como um feto no espaço que vai em direção à Terra. Para mim, esse final foi meio pombo, mas eu entendi a metáfora.
Existem teorias que tudo aquilo foi apenas uma ilusão da cabeça de Dave quando seu oxigênio acabou, mas, ao meu ver, o que realmente aconteceu foi que, os aliens, ao descobrirem que a Terra não é tão interessante e perceberem que os humanos, em questão de inteligência, serviriam no máximo para contar piadinhas, decidiram nos usar para seu entretenimento. É como eu sempre digo, essa parada de que os ETs querem invadir a Terra é prepotência de ser humano burro. Eles, com certeza, nos acham entediantes e subdesenvolvidos, como se a Terra fosse o Brasil na fila da vacina deles!
Por que, então, 2001: Uma Odisseia no Espaço faz tanto sucesso?
A realidade é que, olhar para ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’ é olhar para todo um gênero do cinema. A ficção científica já existia, e Star Trek havia acabado de revolucionar o tema de exploração espacial apenas dois anos antes, em 1966, criando um universo onde, finalmente, era possível morar fora do planeta azul. Mas, enquanto a Enterprise se aventurava para estabelecer contato com novos planetas e culturas, o pessoal de 2001 descobria, pela primeira vez, que não estava sozinho no universo.
O filme também merece vários pontinhos por fazer um ótimo trabalho nos visuais, mesmo em 1968, tanto que, quando o HBO Max remasterizou a produção, eu poderia jurar que ela tinha sido feita nos anos 2000. A cena onde Dave chega em Júpiter é linda e muito bem produzida com todas as suas cores e sons, o visual da nave de cruzeiro dos minutos iniciais do longa me deixaram mesmerizada. As botas que se aderiam ao chão para permitir o deslocamento das pessoas em gravidade zero foi fantástico e, quando uma comissária de bordo se virou e entrou em um corredor que costumava ser o teto, eu só conseguia pensar em como aquilo era realista.
E, para terminar, eu quero dar meu biscoito para a trilha sonora. O filme só tem 25 minutos de conversa, com sua maior parte sendo passada em silêncio ou com uma música ao fundo e, senhoras, senhores e amigos não binários, que escolha. O longa é organizado como um concerto ou ballet: temos uma introdução (a parte dos macacos e as cenas da espaçonave de cruzeiro), um primeiro ato, uma intermissão, um segundo ato e, por fim, um epílogo (os minutos finais de Dave). Combinando com sua montagem, a trilha inteira é feita por uma orquestra, em certos momentos me lembrando bastante de ‘O Lago dos Cisnes’. O filme acaba se tornando uma experiência sonora e visual, cuja história é apenas um pano de fundo para o lindo universo apresentado à audiência e, sempre que a orquestra começa a tocar, você sente que algo esta prestes a acontecer.
Eu amo cinema e nunca havia visto um filme montado dessa forma, o que me deixou estranhamente hipnotizada. Eu gosto de produções frenéticas, com tiro, porrada e bomba, mas preciso tirar o meu chapéu para ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’. Eu posso entender o motivo das criticas ao momento de lançamento da produção, já que ele não é o que se esperava, na época, de uma ficção científica, mas, ao mesmo tempo, é impossível não entender, também, o por quê da imortalização da obra.
Falando sério, o que manteve o status de Uma Odisseia no Espaço como cult é tudo o que o longa inspirou, como mais Odisseias, IAs assassinas e tripulações onde todo mundo morre. Gravidade, Interestelar, Perdido em Marte, todos são exemplos de filmes com premissas diferentes, mas que, se você observar bem, tem alguma inspiração em 2001. Na vida nada se cria, tudo se copia, contudo, absolutamente, o primeiro a copiar de maneira diferente entra para a história.