O filme espanhol ‘O Poço‘ (The Platform) chegou recentemente ao catálogo da Netflix e está sendo um sucesso surpreendente.
E a surpresa não é porque o filme é ruim – na verdade, ele é muito bom. A surpresa é que um suspense cheio de alegorias pesadas sobre religião e conflito de classes sociais tenha chegado ao mainstream e agradado o público geral.
A história do longa se passa em um futuro distópico, onde uma prisão vertical com centenas de andares mantém duas pessoas em cada andar, com a comida sendo distribuída de cima para baixo. Não deveria ser chocante que os últimos da fila não recebem comida nenhuma, pois os primeiros não conseguem controlar sua gula. Mas, ainda assim, choca.
Talvez isso seja um sinal dos nossos tempos. Com a pandemia do novo coronavírus assombrando todos os países do mundo e deixando um rastro de milhares de mortos, a percepção da desigualdade se tornou quase dolorosa demais – e deixou no fundo da nossa boca o sabor amargo da urgência de termos ao alcance de todos, independente de sua renda, uma rede de amparo social.
Em um planeta cheio de recursos naturais e econômicos, é simplesmente cruel que apenas uma pequena porcentagem da população acumule essa riqueza e tenha direitos básicos, como versões humanas de dragões avarentos encastelados com seus tesouros em suas cavernas, matando qualquer um que se aproxime.
‘O Poço’ escancara que nós, enquanto sociedade, naturalizamos por tempo demais a barbárie – e que alternativas são possíveis.
O longa estrelou no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2019, sob o comando do diretor espanhol Galder Gaztelu-Urrutia, e desde então tem causado burburinho. Rendeu até o Prêmio Goya de Melhor Diretor Revelação ao artista.
O elenco conta com Iván Massagué, Alexandra Masangkay, Antonia San Juan, Emilio Buale e Eric Goode.