Há 20 anos atrás, os cinemas dos Estados Unidos e boa parte do mundo recebiam Demolidor: O Homem Sem Medo, de Mark Steven Johnson. O longa estrelado por Ben Affleck seria a primeira (e única, até o momento) adaptação para os cinemas do advogado lutador de artes marciais; um dos mais populares personagens dos quadrinhos da Marvel.
Muito antes de Kevin Feige arquitetar seu universo compartilhado de super-heróis com o MCU, o cinema americano dos anos 2000 experimentava diferentes formas de acertar a fórmula de quadrinhos nas telas. Nos primeiros três anos do milênio, o gênero gerou obras variadas e diversificadas, como o sombrio primeiro X-Men de Bryan Singer, o vibrante Homem-Aranha de Sam Raimi e o experimental Hulk de Ang Lee.
No meio disso tudo, encontrava-se o Demolidor de Johnson. Produzido pela 20th Century Fox, o filme contava a origem de Matt Murdock e sua transformação no violento vigilante Demolidor, lutando para proteger o bairro de diferentes ameaças, mas principalmente do poderoso Rei do Crime, vivido por Michael Clarke Duncan em um de seus papéis mais divertidos dos anos 2000. O longa, definitivamente inchado, também se esforçava para desenvolver a heroína Elektra (vivida por Jennifer Garner) e o vilão secundário Mercenário, que ganha uma performance colorida e exagerada com o então novato Colin Farrell – que anos depois faria o Pinguim no Batman de Matt Reeves.
E tantos anos depois, especialmente após a elogiada série da Netflix estrelada por Charlie Cox, Demolidor: O Homem Sem Medo permanece como um retrato inconfundível de sua época. Ainda embalado pela geração MTV com videoclipes e um CGI não muito desenvolvido, o filme de Mark Steven Johnson é confuso e desencontrado em seu tom, diversas vezes transformando o herói em uma figura genérica e sem muita profundidade – mas definitivamente o fazendo com um estilo virtualmente inexistente nas produções contemporâneas.
A Hell’s Kitchen do filme é expressionista e dispensa o realismo, quase abraçando o aspecto gótico do Batman de Tim Burton, e todas as cenas de ação ainda se inspiram no impacto de Matrix; com saltos, giros e muito couro apertado. Como o filme vem com uma trilha sonora licenciada (outra pérola dos anos 2000), Demolidor literalmente interrompe a narrativa duas vezes para se transformar em um videoclipe da banda Evanescence, o que pode soar ridículo em essência – mas torna a experiência um pouco mais divertida, especialmente porque as canções venceram o teste do tempo.
Mas o principal problema de Demolidor, mesmo tantos anos depois, permanece na escalação de Ben Affleck. O astro certamente se mostrou bem mais confortável na versão casca grossa e depressiva do Batman de Zack Snyder, mas como o herói um pouco mais idealista e leviano, é definitivamente um dos pontos mais fracos de sua carreira como ator.
Definitivamente a versão de Charlie Cox foi mais feliz em sua adaptação do Demolidor, mas O Homem Sem Medo garante um olhar interessante para o tipo de cinema de quadrinhos dos anos 2000. É imperfeito e longe de perfeito, mas 20 anos garante uma experiência interessante.