Review | Sand Land é o grande último adeus a Akira Toriyama

Sand Land é um jogo baseado em um mangá de Akira Toriyama, o saudoso autor que tem entre seus trabalhos mais populares Dragon Ball e Dr. Slump.

Sand Land é um jogo baseado em um mangá de Akira Toriyama, o saudoso autor que tem entre seus trabalhos mais populares Dragon Ball e Dr. Slump. O game foi lançado poucas semanas depois do repentino falecimento do mangaká, que também participou da produção como consultor. Os fãs mais assíduos de Toriyama devem saber que ele não é estranho ao mundo dos games, trabalhando diretamente como designer de personagens em clássicos dos JRPG como a série Dragon Quest e Chrono Trigger. Agora vejamos como a mais nova adaptação dos games da obra do mestre saiu.

Um vasto novo mundo

Sand Land era um mangá relativamente curto, contendo apenas 14 capítulos em um único volume. Para fazer um jogo de ação com elementos de RPG como foi a escolha que os desenvolvedores fizeram, expansões em relação ao material original deveriam ser trazidas. Assim o mundo e a história foi expandida na versão animada e também nessa dos games.

Não espere um mundo aberto no nível de Red Dead Redemption 2 (barra alta, eu sei!) Mas é um mundo com alguma exploração a ser feita e elementos esperando para ser descobertos. Em sua jornada o jogador vai encontrar vários materiais que serão usados para criar itens para equipar seus veículos e robôs e encontrará recursos para ser administrados em combate, entre eles alguns que aumentam força, outros a defesa, e é claro, poções de cura.

Alguns diriam que é um mundo vazio e com muitos elementos repetidos, o que é verdade até certo ponto no jogo, mas o empenho em trazer o mundo de Toriyama a vida rendeu alguns bons frutos. Apesar da falta de variedade em elementos mostrados no mundo aberto, a qualidade visual do jogo é impressionante. Outro tema que merece destaque é Trilha sonora do jogo que está espetacular e acompanha bem o humor do jogo em cada cena.

Lute como um demônio

No jogo você controla na maior parte do tempo, Beelzebub, o príncipe dos demônios, que aceita um convite de um xerife para participar de uma aventura para encontrar o “lago fantasma” (subornado através de um videogame, mas enfim…). Beelzebub possui habilidades limitadas no início do jogo, consistindo em apenas um combo apertando um botão só, um golpe forte e um rolamento para evitar ataques.

Como todo jogo com elementos RPG, este possui uma skill tree bem extensa, onde você pode melhorar as habilidades de Beelzebub e seus amigos. O protagonista irá aprender novos golpes e combos que podem incrementar bastante o combate e ainda temos as habilidades de seus companheiros, xerife, o demônio Thief e Ann que podem ser ativadas durante o combate. Esse sistema lembra um pouco o do jogo “Marvel ‘s Guardians of the Galaxy”. 

Mas o destaque do jogo mesmo são os veículos. Sand Land toma emprestado alguns elementos que estão ausentes do material original da obra mais famosa de Toriyama, Dragon Ball. Um desses elementos são as cápsulas em que ficam embutidos veículos e robôs que você pode invocar a qualquer momento do jogo (exceto em alguns locais e missões específicas).

O primeiro veículo é o tanque de guerra que também aparece no mangá de Sand Land e tem um papel predominante. Algumas das melhores batalhas no jogo também são as de tanques, onde você tem acesso às armas tradicionais que fazem parte desse tipo de veículo como a metralhadora e o tanque. Mais tarde temos acesso ao Pulabot, que como o nome já indica, ele pula para alcançar certas áreas inacessíveis antes e possui metralhadora e lança granadas embutidas, temos ainda a moto cujo foco é velocidade (e lembra muito a moto da Bulma nos primeiros capítulos de Dragon Ball) e o mecha de combate, cada um desses tem suas peculiaridades.

Temos também algumas seções de stealth em que controlamos ou o Thief ou o Beelzebub que são bem interessantes. No melhor modo de humor do Toriyama a forma com que o demônio derruba os soldados nessas partes é apenas com um bom susto. Em geral não há tanta dificuldade no jogo, o que pode frustrar algumas pessoas que procuram um maior desafio. Porém isso faz também com que o jogo seja adequado para aqueles que procuram apenas uma diversão casual.

Jornada ao Oeste

Sand Land se encaixa na mesma categoria de muitos animes/mangás que se inspiram no clássico chinês Viagem ao Oeste em que personagens se lançam em uma aventura, fazendo amigos e inimigos no caminho, procurando algo em particular (as esferas do Dragão ou o lendário tesouro One Piece). A mensagem que esse tipo de história costuma passar é que o verdadeiro tesouro são o aprendizado e os amigos que eles fazem no caminho.

No caso de Sand Land além dessa premissa inicial, quanto mais vamos conhecendo o mundo, mas percebemos seus elementos distópicos. Depois de várias guerras, o mundo se tornou um ambiente completamente desértico, onde os seres humanos e também os demônios como Beelzebub tem que administrar recursos básicos como água para sobreviver (elemento também incorporado na gameplay).

 Além disso, depois se descobre que o mundo está dessa forma porque o governo esconde e isola uma rica fonte de água, deixando toda a população de Sand Land na miséria. No jogo, cabe a você lutar contra essa injustiça.  Apenas com essa premissa a história já tem bastante apelo, mas ainda vem com várias expansões interessantes. 

Temos a adição da personagem Ann que nada mais é do que a Bulma deste universo, sendo uma jovem gênia que fabrica bugigangas diversas para Beelzebub e o auxilia em sua jornada. Além disso há ainda a expansão da história que apresenta o mundo de Forest Land que proporciona várias horas de entretenimento a mais para o jogador. O charme de Sand Lan fica também por conta do humor característico de Toriyama que adiciona bastante personalidade à história.

Conclusão

O jogo Sand Land é uma obra especial por ser uma das últimas que o Mestre Akira Toriyama trabalhou ainda em vida. Assim como todo jogo, possui suas imperfeições, o combate pode ser visto como repetitivo e com poucos desafios e o mundo aberto considerado como vazio com pouca variedade de inimigos e criaturas.

No entanto, o humor, o visual fantástico, a trilha sonora e os clássicos personagens criados por Akira Toriyama salvam a obra de ser apenas um jogo passável. Recomendo tanto para os fãs do mestre como aqueles que desejam apenas uma diversão casual.

3.5/5

Agradecemos à Bandai Namco pela cópia gentilmente cedida para a análise.

Redator, jornalista e fotógrafo formado em Cinema que até hoje gosta de espalhar ao mundo as últimas novidades sobre o audiovisual. E-mail: [email protected]