Crítica | Em ‘Era uma vez em… Hollywood’, Tarantino ri daqueles que sofreram abuso, ameaças ou foram assassinados!

Era uma vez em... Hollywood estreia dia 15 de agosto nos cinemas.

Quando eu fui convidado para assistir ‘Era uma vez em… Hollywood‘, eu estava completamente sem noção do que se tratava o filme. Ao ver um recado de Quentin Tarantino logo antes do início, pedindo para não darmos revelações que prejudicassem a experiência de nossos leitores ao assistir o filme, tomei um susto. “Deve ser um bom filme”, imaginei.

Acontece que, ao terminar o filme, a primeira pergunta que fiz foi “como financiaram isso?”. Eu não sou um crítico de cinema e, portanto, ir ao cinema para mim é como aproveitar uma experiência que busca por conhecimento e, ao mesmo tempo, lazer. E é esse tipo de análise do filme que eu proponho a vocês aqui.

Minha pergunta se responde imediatamente por meio de outra pergunta “Por que financiariam esse filme? Ora, porque é Tarantino!”. As pessoas partem da ideia de que um diretor consagrado só produz filmes consagrados, o que pode ou não ser verdade. E a verdade é que este filme, em específico, não é feito para qualquer um.

Eu passei o filme todo esperando aquele esquema tradicional: introdução, clímax, conclusão. Muito frequentemente associado à jornada do herói e outros instrumentos para quem é entendido do assunto. São quase três horas arrastadas de filme, em que pequenos clímax acontecem com uma grande catástrofe totalmente inesperada no final.

Para além do questionamento da necessidade do filme, trago alguns pontos importantes destacados por ele: o Rancho Spahn e a família Manson, Cliff Booth (Brad Pitt) como o dublê da história dos Manson ganhando um destaque maior no filme, e Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) como ator decadente de filmes de faroeste. Não vá ao cinema sem pesquisar sobre isso antes.

O filme traz aspectos reais da história Hollywoodiana na década de 1960/70, misturados com ficção e muita polêmica. Podemos citar Roman Polanskiv (Rafal Zawierucha), condenado por estuprar uma menor de idade, e a família Manson, que assassinou Sharon Tate (Margot Robbie), esposa de Roman, quando estava grávida, mas que, aos olhos de desinformados, dá a entender que o movimento hippie é predominado por baderneiros e aspirantes a assassinos.

É possível perceber, contudo, como a época era cheia de conservadorismos, como machismo, misoginia e a luta para que pessoas não-brancas tivessem algum destaque. Existem alguns detalhes no filme que podem passar despercebidos, como a passagem em que Manson (Damon Herriman) pergunta sobre o proprietário do imóvel em que, na história real, houve o assassinato de Sharon. Ou mesmo os pés sujos de Sharon, quando ela está assistindo ao próprio filme no cinema.

O humor escarnado de Tarantino no filme é brutal. Ele faz com que todas as atrocidades do passado sejam registradas como uma risada fantasmagórica que ressoa ao fundo por muitas horas. É um humor que não vê no segregacionismo Hollywoodiano uma representação da realidade, a contar pela crítica de Shannon Lee à forma que o pai, Bruce (interpretado por Mike Moh), foi representado.

Tarantino ri daqueles que sofreram abuso, ameaças ou foram assassinados, e faz sua própria vingança, ao contar a história da triste e deplorável Hollywood dos anos 1960.